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Celebração da festa tradicional MBoatawa

Durante a semana passada celebrou-se intensamente na Terra Indígena Tenharim Marmelos. Entre os dias 16 e 20 de julho aconteceu uma das principais festas tradicionais do povo Tenharim, o Mboatawa, dessa vez na Aldeia Marmelos IV. O Mboatawa ocorre no início do “verão” amazônico entre os meses de junho e agosto, período que corresponde ao final das chuvas e começo da estiagem. A festa congrega todas as aldeias Tenharim, diferentes grupos locais e povos vizinhos, além de contar com a presença de convidados não-indígenas, como autoridades governamentais, antropólogos, Exército e servidores da CR Madeira.

A cada ano a festa se passa em uma aldeia diferente. Há, portanto, um rodízio entre as aldeias promotoras sendo que as outras atuam como convidadas. O “dono da festa” desse ano foi o Zeca, do clã Taravé-Gavião, chefe da Aldeia Marmelos IV, responsável por organizar e produzir a festa de 2013, bem como recepcionar os convidados.

No entanto a preparação da celebração inicia-se cerca de um ano antes e envolve uma ampla mobilização coletiva liderada pelo dono da festa. Nessa edição o cacique Zeca coordenou a construção da Casa Ritual que recebeu o nome de “Ôga Tymãnu Torywa Ropira”:

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E participou da produção
de um CD de cantos e histórias tradicionais, o “Morogitá” lançado durante a festa.

Além de abrigos para os visitantes, e cozinhas externas para alimentar todos os presentes, os Tenharim se dividem entre a colheita de taboca para a confecção da flauta (Yrerua) usada nas danças rituais, a confecção de ornamentos como cocares (akanitara),  colares (mboy’ra) e a fabricação dos arcos e flechas (yvyrapara u’ywa). Durante aproximadamente os trinta dias que antecedem a festa, encetam-se no preparo da farinha cerimonial Tenharim, a Mandiogwy, conhecida como farinha branca que é distribuída as famílias no encerramento do Mboatawa.

Dias antes do início da festa, grupos familiares se dividem pelo território e saem para realizar a caçada. Cada qual es, tabelece um acampamento à margem dos rios por onde pernoitam por dias e noites caçando e pescando para abastecer o Mboatawa. E é justamente com a chegada dos caçadores – anunciados por fogos de artifício e recepcionados pelo dono da festa e seus cantos tradicionais – que a festa se inicia.

 

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A emoção segue ao longo da programação que conta com pequenas cerimônias, casamentos, inúmeros cantos na língua e danças tradicionais em que os homens – dos antigos às crianças – formam um cemi-círculo tocando suas yrerua e as mulheres – em sua maioria as jovens solteiras – aos poucos seguem em fila para dançar com seus pares. Essas danças são animadas e por vezes arriscam-se os não índios a tentar seguir seus ritmos.

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No último dia de festa é servida a refeição principal: anta moqueada cozida no leite da castanha acompanhada da Mandiogwy. Esse prato mobiliza grande parte dos presentes: desde muito cedo no dia do encerramento somam-se diversos braços dispostos a descascar castanhas enquanto as mulheres as pilam, formando assim o leite. Ao final, todos comem juntos e repartem a Mandiogwy entre as famílias, marcando o fim do Mboatawa.

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Projeto Mbotawa

Esta semana do índio foi muito especial para os povos do Madeira. Além da celebração com marcha pela cidade, projeção de filmes, palestras e futebol, os Tenharim, em particular, tem muito o que comemorar.

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Jovem Tenharim participa da gravação do CD “Morogitá”.

É que entre os dias 16 a 18 de abril um grupo desses indígenas, liderados pelo Cacique Zeca Tenharim, veio a Humaitá para a gravação do CD “Morogitá”, de cantos e histórias, com lançamento previsto para julho, durante o Mbotawa, festa tradicional dos Tenharim. O CD é parte do Projeto Mbotawa, idealizado por Zeca, do clã Taravé-Gavião, chefe da Aldeia Marmelos IV e organizador da festa deste ano.

O cacique já coordenou a construção da Casa Ritual do Mbotawa, que recebeu o nome de “Ôga Tymãnu Torywa Ropira” e foi inaugurada no último dia 15 de abril em cerimônia na aldeia. Além da casa ritual, será construído o Museu Temporário do Povo Tenharim, que abrigará informações sobre a festa, sobre os Tenharim e sua história. A ideia é que os visitantes encontrem no Museu informações sobre as festas, rituais e a cultura material Kagwahiwa (auto-denominação Tenharim). O Museu abrigará, também, o ciclo de palestras “Diálogos do Morogitá” durante o Mbotawa, onde os Tenharim poderão conversar com convidados sobre temas atuais da política e movimento indígenas. Ao final, os organizadores buscarão apoio para editar uma publicação bilíngue com o título “Diálogos do Morogitá: saberes e fazeres do Mbotawa”, preenchendo a imensa lacuna de materiais existentes sobre os indígenas e podendo ser utilizado na Educação Básica, nos termos da lei 9394/1996. Com isso, os Tenharim, desde seu principal ritual, estarão contribuindo para a construção de novos olhares sobre os povos indígenas.

ImagemO Mbotawa é inteiramente organizado e executado pelos Tenharim, mas conta com o apoio de diversas instituições, como a APITEM – Associação do Povo Indígena Tenharim-Morogitá, a CR Madeira/FUNAI, o Núcleo de Estudos Afrodescendentes e Indígenas da UFAM (NEABI), a Secretaria para os Povos Indígenas e a Secretaria Municipal de Cultura, Turismo e Meio Ambiente de Humaitá, além do Ministério da Cultura através do Prêmio Culturas Indígenas.

A equipe de organização do evento é liderada por Márcio Tenharim, Marcos Tenharim e Deudsmar Tenharim, além do Conselho de Lideranças, composto por Zeca, Bosco, Léo, Antônio Enésio, Ivanildo, Zelito, Aurélio, João Sena, Domingos, Duca, Isaque, Ponciano, Domar, Agostinho, Dorian e Pedro Peruano. Sandoval Amparo, geógrafo da CR Madeira, é o técnico responsável pelo apoio da FUNAI à realização da festa. Segundo ele, “o Mbotawa está possibilitando trazer a tradição indígena para o centro do debate indigenista, já que é o grande patrimônio destes povos. Neste ano, estamos com duas iniciativas habilitadas concorrendo ao Prêmio Culturas Indígenas e as parcerias mobilizadas até o momento, tem mostrado o grande valor atribuído pela sociedade brasileira a este patrimônio da humanidade de rara beleza estética”.

Os interessados em participar do Mbotawa, que se realizará entre 16 e 20 de julho, ou em apoiar a sua realização deverão entrar em contato através do email: apitem@yahoo.com.br ou pelos telefones 97-3373-3670 ou 97-8105-2298. Outras informações podem ser obtidas na página do Mbotawa no Facebook: www.facebook.com.br/mbotawa2013